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Projetos

Ideologias e práticas linguageiras em contexto de formação de professores e ensino- aprendizagem de línguas

Os estudos a serem realizados no âmbito deste projeto ocupam-se com ideologias e práticas linguageiras em contexto de formação de professores e ensino-aprendizagem de línguas, focando em: a) ideologias e concepções de linguagem e ensino-aprendizagem de calouros e formandos em Letras Português-Inglês; b) ideologias, representações, êxitos e impedimentos no/do trabalho do professor; c) contribuições de trabalhos com gêneros textuais. A clássica definição de Voloshinov/Bakhtin ([1953]2010, p.262) de gênero textual é adotada pelo grupo, advogando que “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso.” É ainda com base no Círculo de Bakhtin que entendemos signos como ideológicos e ideologia como “um reflexo das estruturas sociais” (VOLOSHINOV, [1929]2010). Também nos apoiamos em Vygotsky e compreendemos os seres humanos como seres construídos sócio- historicamente tendo a mediação e a linguagem papel fundamentais nesse processo (VYGOTSKY, 2007). Ainda nos fundamentamos nos princípios do interacionismo sociodiscursivo (ISD) (BRONCKART, [1993]2003; 2006; SCHNEUWLY; DOLZ, 2004; CRISTOVÃO; STUTZ, 2011; BEATO-CANATO, 2011; CRISTOVÃO; BEATO-CANATO, 2015), perspectiva alicerçada nos preceitos bakhtinianos e vygotskyanos que tem forte preocupação com a compreensão do humano, questões do trabalho e pedagógicas. Partindo desses princípios, o projeto tem a intenção de englobar questões relacionadas especialmente a contextos didáticos, tanto de ensino-aprendizagem de línguas quanto de formação de professores, identificar concepções e pressuposições e contribuir para práticas didáticas que contribuam para o agir do professor e do aprendiz. Esperamos compreender de maneira mais informada os contextos em investigação e contribuir para práticas igualmente informadas e produtivas.

 

Práticas de (multi)letramentos, ideologias linguísticas e políticas no/para o ensino- aprendizagem e formação de professores de inglês como língua adicional

A expansão do uso do inglês como recurso de comunicação em contextos transnacionais, potencializado pela sua utilização como língua franca/adicional por falantes de línguas maternas diversas, pela pluralidade etnolinguística dos grandes centros urbanos e pelo papel que os usos das novas tecnologias desempenham no fluxo de pessoas e informações na contemporaneidade, têm levado à problematização da tradicional ênfase das práticas de ensino e aprendizagem e formação de professores em modelos nativos linguística e culturalmente idealizados. De forma semelhante, a ideologia sobre a existência de modelos de letramentos autônomos pautados no desenvolvimento de habilidades de compreensão e produção escrita que podem ser reificadas em contextos diversos também tem sido objeto de escrutínio a partir de uma visão ideológica dos letramentos que defende o caráter situado e ideológico das práticas de letramentos (STREET, 1984; 2009). É, portanto, a partir de ideologias cristalizadas (VOLOSHINOV, 1929 [1999]) que defendem que tanto aquilo que chamamos de inglês quanto o que valorizamos como práticas de letramentos são sempre situados histórica, cultural e institucionalmente, que o presente projeto busca compreender e problematizar as práticas de letramentos e políticas linguísticas que orientam processos de ensino-aprendizagem e formação de professores de inglês como língua adicional em esferas educacionais diversas. Para tal, parte de uma perspectiva etnográfica dos letramentos (STREET, 2009; LEUNG; STREET, 2012a, 2012b), da concepção de multiletramentos (COPE; KALANTIZIS et al, 2000), da filosofia da linguagem do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1920-24 [2010]; VOLOSHINOV, 1929 [1999]; BAKHTIN, 1953 [2003]), da noção de ideologia linguística (KROSKRITY, 2004; WOOLARD, 1998) e de discussões sobre inglês como língua franca/mundial/internacional/adicional (RAJAGOPALAN, 2004; CANAGARAJAH, 2006; DEWEY; LEUNG, 2010; JENKINS; COGO; DEWEY, 2011; PARK; WEE, 2011; entre outros) para: a) compreender as práticas de letramentos e políticas linguísticas que orientam o processo de construção de conhecimento de inglês como língua adicional no ensino básico e/ou superior; b) compreender/problematizar as ideologias linguísticas expressas pelos participantes dessas práticas; c) compreender/problematizar as relações de poder legitimadas e/ou abaladas por/nessas práticas; d) problematizar/refletir sobre os letramentos, as ideologias linguísticas e relações de poder observadas nas microssituações das práticas de letramento em foco em relação ao macro-contexto institucional e cultural em que tais práticas bem como as visões dos participantes sobre elas estão engendradas.

 

A autonomia de aprendizes de L2 em escolas públicas do Rio de Janeiro: uma perspectiva sociocultural

Uma pesquisa de cunho qualitativo, baseado em princípios etnográficos, cujo objetivo principal é acompanhar e compreender as crenças e atitudes de alunos de inglês em escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro no que diz respeito ao desenvolvimento de sua autonomia na sua aprendizagem de uma L2. A análise é feita sob a perspectiva sociocultural, em que o modelo de autonomia de Oxford (2005), proposto em contraposição ao modelo de Benson (1997), é utilizado. Entre outras categorias, a pesquisa tentará mostrar como os alunos, na construção de seus papeis sociais, se engajam ou não nas tarefas de aprendizagem planejadas por seu professor. Essa definição de papeis será analisada ao longo da pesquisa pela análise das crenças dos participantes, dentro de uma abordagem contextual (BARCELOS, 2001), em que são analisados contextos específicos de sala de aula, cujas naturezas podem ser paradoxal, dinâmica, socialmente construída, mediada, experiencial e emergente.

 

Práticas identitárias no livro didático: circulação de discursos e vozes na construção do conhecimento

O material didático, especialmente o livro didático, ocupa um papel fundamental no contexto brasileiro de ensino de línguas. Embora idealmente um livro didático funcione como um facilitador do ensino, muitos programas de ensino são elaborados com base na escolha de um livro didático. Portanto, a abordagem metodológica adotada pelo livro e a forma como o professor faz uso deste instrumento de ensino são de grande importância no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, é preciso ter em mente que, no contexto atual da contemporaneidade, o ensino de línguas estrangeiras (especialmente o de inglês) tem o objetivo de promover a inclusão social dos alunos no mundo globalizado por meio do conhecimento de um novo idioma. Para tanto, é preciso refletir sobre o contexto de produção de tais livros. Muitos deles podem trazer uma visão bastante simplista, e até mesmo etnocentrista, da globalização e de contextos culturais e sociais, contribuindo para a exclusão social. Muitos destes livros são produzidos para um mercado internacional global que se pretende único, e esta questão precisa ser problematizada. Mesmo o livro didático nacional, adequado às necessidades do nosso país, pressupõe um contexto nacional único e homogêneo, o que não reflete a realidade. É preciso lembrar que, enquanto parte do processo educacional, o livro didático também atua na construção de identidades dos alunos.

 

O livro didático na contemporaneidade: novos e multi letramentos

A contemporaneidade (FRIDMAN, 2000), caracterizada por discursos altamente semiotizados, globais e liquídos (BAUMAN, 1999, 2003), acaba demandando uma reconfiguração dos espaços de ensino e aprendizagem que ainda se apresentam como tradicionais. A aula, portanto, precisa se adequar a essa nova configuração social, uma vez que o aluno contemporâneo, letrado digitalmente e acostumado a discursos multimodais, não reconhece a relevância de uma aula que se distancia tanto de suas práticas sociais. Entendendo o livro didático, assim como outros materiais de ensino, como a “porta de entrada” do processo de ensino e aprendizagem (uma vez que estão presentes na quase totalidade das salas de aula, além de servirem de “porto seguro” para alunos – e professores), e reconhecendo seu potencial para a incorporação dos discursos multimodais contemporâneos e sua circulação no processo de ensino e aprendizagem, o presente projeto concentra trabalhos preocupados em investigar a forma como livros e outros materiais didáticos lidam com essas novas formas de aprendizagem (KALANTZIS & COPE, 2012), multiletramentos (COPE & KALANTZIS, 2000) e novos letramentos (LANKSHEAR & KNOBEL, 2011), letramento crítico (FREEBODY, MUSPRATT, & LUKE) e multimodalidade (KRESS & VAN LEUWEN, 2000). Acredita-se que tais preocupações não são apenas metodológicas, mas impactam diretamente na construção das identidades sociais dos alunos: quem é o aluno a quem o material didático se destina e como esse material contribui para efetivamente inserir o aluno na sociedade contemporânea?

 

O letramento linguístico e o ensino do texto: subsídios para a Linguística Aplicada e para a formação de materiais didáticos em língua materna.

Projeto que toma como norte as bases teóricas, programáticas e procedimentais que sustentam o conceito de letramento linguístico e corolários a ele relacionados (Ravid e Tolchinsky, 2002). Investiga-se o seu potencial propiciador do trabalho em prol da melhoria da qualidade do ensino do português como língua materna no Brasil, através do aperfeiçoamento da condição da pessoa como linguisticamente letrada na sua língua materna. O enquadramento dado ao conceito mantém em vista as formulações dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Língua Portuguesa, entre as quais se destacam: a definição do texto como nível de análise linguística central ao desenvolvimento de pedagogias relacionadas às práticas sociais efetivas com a língua portuguesa; a percepção de um ensino voltado para os usos públicos da linguagem, os quais, no caso deste Projeto, estão atrelados aos modos de construção dos significados linguísticos nas suas diferentes modalidades, e por isso são descritos com o aporte das Ciências Cognitivas; e o caráter central do ensino de leitura e de produção textual como encaminhamento para a concretização dos objetivos dispostos nos PCNs, e do ensino da gramática como meio favorecedor do conhecimento e da auto-suficiência dos alunos no trato com o texto escrito, seja em leitura, seja em produção textual. O Projeto se constitui de três ações básicas de pesquisa: o desenvolvimento e detecção do que configura as competências metacognitivas e metalinguísticas relacionadas à produção e leitura de textos de diferentes gêneros, como parte do processo de construção do letramento linguístico; a investigação da qualidade dos materiais didáticos de ensino e aprendizado do texto em língua portuguesa em função das competências definidas acima; e o desenvolvimento de materiais didáticos para o ensino do texto dentro dos programas de Língua Portuguesa nas séries fundamentais e médias.